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Do que é que as crianças realmente precisam numa "birra"?

Para um trabalho com crianças eficaz e baseado em evidência
birras

 

 

As crianças fazem birras

 

As crianças precisam de adultos que se lembrem que as crianças fazem "birras". Que os comportamentos desafiantes, como as birras ou a desobediência, fazem parte de um desenvolvimento normal e saudável. É importante que os adultos que cuidam de crianças (sejam mães, pais, educadores, professores, médicos, enfermeiros, assistentes sociais ou até advogados e juízes) conheçam o que é esperado para cada fase do desenvolvimento infantil.


Sabemos que as birras são uma expressão de emoções intensas com as quais a criança não está a conseguir lidar sozinha e, frequentemente, uma forma de expressar as suas necessidades não satisfeitas (fisiológicas ou emocionais, como sono, fome, conexão, atenção/reconhecimento, etc.). Neurologicamente, a criança ainda não é capaz de regular completamente as suas emoções, isto é, ainda não amadureceu totalmente a zona do cérebro que a ajuda a regular-se, portanto, precisa da ajuda de um cérebro maduro para o fazer cada vez melhor.

 

 

 

Como ajudar as crianças 

 

As crianças precisam da ajuda de um cérebro maduro (i.e., dos adultos) para aprender cada vez melhor a gerir as suas emoções e comportamentos de forma saudável. A nossa função, enquanto adulto/cérebro maduro, é ajudar a criança a lidar com a desregulação emocional do momento, para que ela aprenda a lidar de forma cada vez mais saudável e integrada com o que está a acontecer.

Como? Aqui ficam duas ideias, baseadas na evidência da psicologia do desenvolvimento e das neurociências:

 

 

  1. Previna, tanto quanto possível. 

Por um lado, respondendo, dentro do possível, às necessidades fisiológicas e emocionais da criança:

  • Organizar as atividades familiares tendo em conta as horas de descanso e de alimentação; 
  • Passar tempo frequente de qualidade com a criança; 
  • Mostrar interesse pelo que a criança faz e partilha connosco. 

 

Aproveite também para reconhecer a criança com frequência, por exemplo:

  • "Reparei que hoje já conseguiste dobrar sozinho as tuas calças."
  • "Queres explicar-me como fizeste essa construção?".

 

 

  1. Dê nome

No momento da birra, dê nome àquilo que a criança possa estar a sentir, sem emitir qualquer julgamento, por exemplo, "Estás a sentir-te muito frustrada porque não te deixo comer gelado antes do almoço, é isso?".

 

Mostre também que está ali para ajudá-la a lidar com o que está a acontecer (ex: Dizendo "estou aqui" e/ou "eu sei que está a ser muito difícil para ti e eu estou aqui para te ajudar" e/ou "posso ajudar-te?" e/ou mantermo-nos próximos da criança (lembre-se que isto vai variar consoante cada criança, há crianças que lidam melhor com a proximidade física ou até um abraço, outras que não, vá investigando o que funciona melhor para que ela consiga regular-se cada vez melhor).

 


 

Importância de nos autorregularmos 


Lembre-se: Nós somos o cérebro maduro e temos a responsabilidade de cuidar das crianças a partir desse lugar de sabedoria e maturidade, pelo que é importante que sejamos capazes de nos regularmos naquele momento, mantendo essa sabedoria, calma, gentileza e assertividade, caso seja necessário colocar algum limite. 

Arranje uma "mochila" de estratégias para se regular e ser capaz de lidar com estes comportamentos da criança, sem fazer uma "birra" também e dando o exemplo.

Sim, as ditas "birras" podem ser muito desagradáveis para nós, adultos. É difícil lidar.

E será ainda mais difícil se a nossa bolha de oxigénio estiver nos níveis mínimos (por cansaço, privação de sono, porque estamos a passar uma fase difícil no trabalho ou qualquer outro desafio do nosso dia-a-dia). Mas isso é da nossa responsabilidade cuidar. Não é responsabilidade da criança.

Lembre-se também que algumas crianças fazem mais birras do que outras e isso pode prender-se com diferentes motivos, como a fase do desenvolvimento em que está, o temperamento ou o contexto. No entanto, TODAS as crianças, independentemente dos motivos, precisam de adult@s que a ajudem a lidar com estes momentos.

 

 

Resumindo
 

Para um desenvolvimento saudável, a criança deve ter à sua volta adultos (cérebros maduros) que a ajudem a lidar com as suas emoções mais intensas e que se conheçam a si própri@s, às suas emoções, aos seus gatilhos e que saibam aplicar estratégias práticas para gerir as suas próprias emoções e comportamentos.

  • A criança deve aprender que pode contar com o adulto, sobretudo nos momentos mais difíceis
  • As crianças aprendem também por modelagem (i.e. observando como se lida com emoções mais desagradáveis)
     

Os humanos fazem birras. E, muitas vezes, os adultos cuidadores fazem birras como resposta às birras das crianças. A ideia não é sermos os cuidadores perfeitos e nunca fazermos birras porque somos humanos e às vezes não vamos conseguir regular-nos. A ideia é fazermos os possíveis para sermos o cérebro maduro da relação.

Sobre a autora

Jordana Pinto Cardoso

 

Psicóloga Especialista em Psicologia Clínica e da Saúde, Formadora Certificada desde 2011, Assistente de Docência no ISPA-IU, Doutorada em Psicologia do Desenvolvimento, Consultora e Supervisora. 

Autora de cursos online e presenciais na área da parentalidade, desenvolvimento infantil, gestão do stress e prevenção do burnout.

Polyvagal Informed Therapist pelo Polyvagal Institute, Terapeuta Certificada no modelo psicoterapêutico Internal Family Systems (Level 3) pelo IFS Institute e Terapeuta de Casal (Intimacy from the Inside Out) pelo mesmo Instituto. Psicoterapeuta de adultos em formação pela Sociedade Portuguesa de Psicoterapias Construtivistas. 

Experiência desde 2008 em contexto institucional e desde 2010 em consultório privado, fez formação certificada na área das psicoterapias, meditação, parentalidade e desenvolvimento infantil (incluindo na Universidade de Leiden, Holanda) e conta com diversas publicações científicas nacionais e internacionais, colaborando frequentemente com os media e em encontros e colóquios.

 

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